À medida que o projeto ia tomando forma meu pai me chamava para ver (para desespero de minha mãe ele fazia isso inclusive quando eu estava deitada, quase dormindo). Quando enfim a casinha ficou pronta pudemos começar a brincar. Levamos para dentro dela uma poltroninha inflável de vinil, minhas panelinhas...
Nas minhas brincadeiras eu era dona de casa. Precisava portanto, na minha lógica, de um marido. Meu irmãozinho foi convocado, mas recusou o papel, queria ser o cachorro da família. Usei minha autoridade de irmã mais velha para explicar por A + B que não precisava de um cachorro, inclusive já havia um cãozinho pintado na fachada da casa. Terminei de explicar e avisei, desenrolando a porta de lona: "agora meu marido chegava em casa" e fiz o som da campaínha, "ding dong". Abri a porta e lá estava meu irmõzinho, de quatro, língua de fora, arfando alegremente. Enfurecida, peguei uma de minhas panelinhas de alumínio e bati com toda força na cabeça do vira-latas, para ele entender que não tinha lugar para ele ali e que era para chamar meu marido. Meu irmãozinho começou a chorar, minha mãe ouviu e eu fiquei de castigo, sentada no quarto dela sem poder brincar. Depois dessa tragédia não me lembro mais de ter tentado arrumar nem marido, nem cachorro, nem namorado. Pouco tempo depois meu irmão ganhou um tipi, também de lona, que passou a ser de certa forma a casinha dele.